Assoreamento da ria Formosa é aproveitado pelos veraneantes para atravessar para as praias de Cacela, mas pescadores estão preocupados.
Turistas aproveitam a passagem, que é má notícia para os pescadores.
Os problemas de assoreamento na ria Formosa têm-se agravado nos últimos meses no limite oriental da reserva natural algarvia. Este Verão, na zona da península de Cacela, o leito da ria está mesmo ocupado por um banco de areia, que originou uma inédita passagem pedonal entre a localidade de Fábrica e o mar. A situação facilita a deslocação dos veraneantes até à praia, mas os pescadores artesanais da zona temem o desaparecimento de espécies de bivalves.Até agora, o acesso à praia, no extremo da península de Cacela, era apenas possível a pé a partir da praia de Manta Rota ou de barco atravessando a ria, na maior parte dos casos a partir do lugar de Fábrica, pequena aldeia próxima de Cacela Velha, onde os pescadores realizam as travessias. Mas este ano tudo mudou.Onde antes corria o leito da ria em direcção ao mar há agora um enorme banco de areia onde os barcos de pesca artesanal e pequenas embarcações de recreio estão encalhadas e de proa apontada para o céu. Na altura da maré-baixa, por entre as embarcações, abre-se um caminho pedonal que liga a pequena aldeia piscatória à praia semideserta."A ria tem vindo a assorear bastante nos últimos cinco anos, mas no Inverno passado piorou bastante e já começou a surgir um caminho pedonal para a praia. Estou aqui há dez anos e nunca tinha visto nada assim", diz Francisco Queirós, 42 anos, funcionário do restaurante O Costa, em Fábrica, localizado mesmo em frente à península de Cacela.As alterações que estão a ocorrer no leito da ria até facilitam o percurso dos veraneantes até à praia, mas para os pescadores artesanais da zona, o assoreamento da ria está a provocar prejuízos avultados. "Amêijoa, berbigão, lingueirões, ostras: com esta areia morre tudo", descreve Marco Silva, 36 anos, pescador da zona de Cacela.