quarta-feira, 25 de agosto de 2010

comício MONTE GORDO


“Os incêndios florestais também têm a ver com as políticas de cortes nos serviços do estado"


Rita Calvário lembrou que “os vigilantes da natureza não têm condições para efectuar o seu trabalho são muito poucos e não têm meios”. No comício em Monte Gordo, intervieram também Catarina Martins e José Gusmão.
O movimento habitual dos veraneantes, que nesta altura do ano aproveitam para se passear nas noites quentes de verão no calçadão ao longo da praia de Monte Gordo, foi ontem interrompido, por momentos, enquanto as pessoas aproveitavam para ouvir o que tinham para dizer José Gusmão, Rita Calvário e Catarina Martins, jovens deputados do Bloco de Esquerda.
Catarina Martins começou por dar conta de que "vivemos num país onde uma em cada quatro crianças vive com carências, uma em cada três pessoas que recorrem ao banco alimentar são crianças e no entanto no ano da crise, 2009, Portugal passou a contar com 600 novos milionários, para além dos 11.000 que já tinha", a deputada bloquista declarou a seguir que, perante esta situação, Sócrates e Passos Coelho apenas dizem que Portugal tem um défice muito grande, e “como não têm coragem de confrontar quem mais tem, juntam-se numa política de tirar a quem tem mais dificuldades”.
Catarina Martins passou depois a explicar: "O governo Sócrates conseguiu, apenas com uma medida, fazer um corte transversal em todos as prestações sociais, desde o subsídio de nascimento ao subsídio de funeral passando pelo de desemprego, pela acção social escolar, bolsas de estudo, enfim todos os subsídios. E isto foi feito com um malabarismo político que merece ser explicado: O governo alterou a forma de cálculo dos rendimentos de um agregado familiar. Antigamente, cada pessoa valia como uma pessoa, para cálculo de rendimentos uma família com três pessoas (pai, mãe e filho) que tivesse um rendimento de 600€ teria então um rendimento de 200€ per capita, e era isso que valia para cálculo de pensões sociais. Mas agora umas pessoas valem mais, outras valem menos e há até os que valem meio. Agora quando for calculado o rendimento de uma família como a que descrevi, o requerente vale 1 mas o cônjuge só vale 0,7 e a criança vale meio. Ou seja a mesma família que recebe exactamente os mesmo 600€ agora, no entanto, o Estado conta com um rendimento per capita de 273€. Se perguntamos se isso quer dizer que agora a família tem 818€ para viver todos os meses a resposta é que não. Continuam com os mesmo 600€, mas agora contam com menos ajuda do estado, porque o Governo aldrabou as contas."
A propósito das notícias sobre a pretensa redução de falsos recibos verdes na função pública, Catarina Martins denunciou que o governo se limitou a dizer “ao trabalhador a recibo verde, nós não te queremos contratar, não te queremos dar os direitos a que os trabalhadores contratados têm, mas precisamos do teu trabalho. Por isso cria a tua própria empresa e o Estado contrata a tua empresa, pelo mesmo dinheiro que te pagávamos a recibo verde".
Rita Calvário, intervindo a seguir, começou por falar deste verão “quente também devido aos incêndios florestais, que lavram por todo o país e cuja destruição se aproxima já à dos trágicos anos de 2003 e 2005”. Pois estes incêndios, ao contrário do que nos querem fazer crer também têm a ver com as políticas de constantes cortes nos serviços do estado. Os vigilantes da natureza não têm condições para efectuar o seu trabalho, são muito poucos e não têm meios, de facto chegou até a acontecer que durante um ano estes vigilantes não puderam sair para o terreno pois não havia sequer orçamento para pagar o combustível para as viaturas.”
A deputada bloquista disse depois que o governo tem demonstrado um desprezo absoluto tanto pelo interior como pelas zonas rurais e pelos pequenos agricultores, que acabam por desistir da sua actividade e migram para o litoral, deixando as matas e os campos que antes limpavam e onde abriam caminhos. Exemplificou este desprezo, com as privatizações dos CTT e da REN, que prestam serviços essenciais às populações, mas que não irão de certo sobreviver nas zonas onde não dão lucro, vetando-as novamente ao abandono.
Rita Calvário falou ainda da proposta do Bloco de Esquerda para a criação de um banco de terras “para que esses milhares e milhares de hectares de terras, que estão ao abandono, possam ser usadas por quem as quer cultivar e para que as mesmas não continuem a ser as maiores vítimas de incêndios.”
A finalizar, José Gusmão falou do “tango” de Sócrates e Passos Coelho “uma dança com algumas pisadelas, até algumas caneladas, mas que nos momento mais fulcrais da política económica se desdobra em entendimentos, sem nunca resolver os problemas fulcrais da economia portuguesa que são a falta de crescimento e o desemprego." José Gusmão aproveitou ainda para falar das medidas apresentadas pelo Bloco nesta sessão legislativa relativamente ao Sistema Nacional de Saúde: a inclusão da medicina dentária no SNS, reprovada, e a Carta dos Direitos do Utente do SNS, aprovada e em implementação.
O deputado bloquista lembrou também que PS e PSD, “que constantemente nos dizem que é preciso reduzir a factura do SNS”, recusaram uma proposta do Bloco de Esquerda, apresentada na Assembleia da República pelo deputado João Semedo, que permitiria uma poupança em medicamentos na ordem dos 280 milhões de euros para o Estado e para os utentes do SNS.
A encerrar o comício, José Gusmão afirmou: “É para pedir menos a quem tem dificuldades e exigir mais a essas tais 11.000 fortunas que o Bloco existe e é para isso que continuaremos a trabalhar.”